O banco do autocarro sem ar condicionado queimava as costas que a camisa de inverno cobria com a sofreguidão da contradição, infinitas vezes avisada pela mãe, de estar a ser erradamente usada durante o verão. O sol amarelo, que adorna o início das tardes de fim de Agosto, anunciava sem precisar de falar a sua presença, a de um corpo celeste, uma estrela finita que no tempo que tem de vida não hesita em recordar ao frágil homem a sua força.
O sono, esse, acompanhando o silêncio da estrela maior,
pesava mais no corpo, que caído num banho de suor meloso, se digladiava entre a
vontade em se manter hirto e a queda abrupta na escuridão. A aula permanecia no
limbo que habitava a fronteira entre os dois.
Os sapatos rosa com laçarotes de veludo entraram na sala. Quebraram
a ânsia de perceber se a Maria voltaria ao curso. Felizmente, assim foi, e as
vozes, boas e más, haveriam de ser uma vez mais colocadas no seu devido lugar.
O reencontro é uma de duas formas que adornam a surpresa,
desta feita, uma que acaba sempre por nos ser familiar, ao contrário da outra, que
implica a singularidade da novidade.
Todavia, quando o reencontro deixa de ser surpresa, ele
passa a ser banal. Um pouco como as campanhas do regresso às aulas, que se
entranham na felicidade das férias e relembram aos putos que mais um ano virá,
e que a efemeridade é uma constante incontrariável. O sol pode ser quente e
gordo mas acaba sempre por desaparecer para depois voltar.
O mesmo sentimento ocorre ao sabermos antecipadamente, numa
escolha racional, que vamos ver a mulher que amamos naquele sitio, naquele
instante, quando já repetimos infinitas vezes num loop mental o beijo que lhe damos e o toque que dela recebemos. Tal passa a ser, embora genuinamente bom, a mera
conclusão dessa ânsia, ao passo que a surpresa de a avistarmos sem que tal fosse
anunciado é a tal chama ardente que tantos loucos falaram e tentaram, sem nunca
o conseguirem, descrever, pois é uma impossibilidade outra coisa senão o sentir.
Isto tudo para dizer que o Incluir está de volta e que estou
feliz de poder mais uma vez ter sono e vestir camisas quentes na altura do ano
em que as mesmas deviam envolver traças e pó de armário. E os diários de bordo estão definitivamente, com a surpresa da familiaridade do regresso, de volta.
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