segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Diário de bordo - O Ferrari vermelho


Viajava eu para Santarém de autocarro, quando constato uma curiosa analogia tida
com um acontecimento daquela manhã.
O Fernando terminara uma pintura de um Ferrari, que a alta velocidade percorria uma estrada cinzenta, ladeada de um campo de verdes pinceladas. Confessou-me, a meio da obra, que escolhera retratar aquele fórmula 1 pois sonhava um dia conduzi-lo, sentir as forças G que inémeras vezes tinha ouvido falar nos canais de desportos motorizados. No final da aula, como acontecia todas as semanas, pegou na sua bicicleta, e lá foi ele, para sua casa.
Já eu, lia um livro de predições relacionadas com a exploração espacial que, ainda que acentes em bases científicas, acentavam na incerteza de um futuro extremamanete longínquo e imprevizível, como é disso exemplo, a descrição das naves que transportavam astronautas para o espaço longínquo, com paragens exporádicas de reabastecimento energético em corpos celestes que habitavam eternamente os vazio intergalácticos.
Mas a verdade é que, infelizmente, por mais que o Fernadno queira, muito dificilmente irá algum dia conduzir o tal o ferrari vermelho, de que tanto falara e idolaterara, ao ponto de o representar numa tela. E por mais que o desconhecido do espaço sideral me preencha a imaginação com uma força tremenda desde que me lembro de folhear livros de astronautas, a verdade é que nunca percorrei uma dessas auto estradas espaciais num desses cetácios de metal carregados de combústivel. O Fernando tem a sua bicicleta, eu tenho o meu autocarro.
No entanto, o sonho é certamente uma das únicas regalias igualitárias que a nossa existência efémera acarreta. A noção de que estamos impossibilitados de os cumprir, todavia, é a maldição acente na certeza de que não temos a eternidade do nosso lado.
Mas, e tal como o sonho, é um alívio sabermos que temos sempre o "mas", existe sempre a possibilidade de contrariar a tendência da impossibilidade racional do sonho. A Arte é um desses "mas".
Pelo que tenho viso nesta minha aventura enquanto professor do "Incluir", a sensação que tenho é a de que a dádiva existe na possibilidade de manifestar plasticamente na tela a esperança de cumprirmos sonhos impossiveis. Pintar um ferrari, um barco à vela, a lua, um gato alado ou um elefante que fala. Munidos com materiais tão reais e concretos como tintas e pincéis podemos transfigurar-nos em alquimistas de devaneios.
Se para mim aquele autocarro e aquela viagem de 15 minutos foram idênticas a uma acoplagem numa estação espacial de Marte, ou de uma Lua de Saturno, a viagem de bicicleta do Fernando, foi uma verdaderia corrida numa pista de um circuito mundial de Fórmula 1.
E ainda por cima, a bicileta dele nem era vermelha.

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